O Acervo Origens é uma iniciativa do violeiro, pesquisador e produtor musical Cacai Nunes e visa pesquisar, catalogar, divulgar e compartilhar conteúdos musicais na internet e em atividades culturais das mais diversas como shows, saraus, bailes de forró e programas de rádio. Ao identificar, articular e divulgar a música brasileira, sua história e elementos – entendidos como o conjunto entrelaçado de saberes, experiências e expressões de pessoas, grupos e comunidades, sobre os mais diversos temas – o ACERVO ORIGENS visa contribuir para a geração e distribuição de um valioso conhecimento, muitas vezes ignorado e disperso pelo território nacional.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Roda de Samba (12/07/2011)

Se o samba tem uma alma, uma coisa se pode dizer dela: é redonda. A Roda de Samba antecede o samba e é sua matriz física. Não foi o samba que criou a roda, mas o contrário. Ao longo de sua existência, o Samba incorporou instrumentos, alterou formas e harmonias, criou novos estilos e sofreu uma série de outras modificações. Mas a Roda permaneceu. O pesquisador Roberto Moura, em 2004, escreveu um livro sobre a Roda de Samba (No Princípio, era a roda: um estudo sobre samba, partido alto e outros pagodes. Editora Rocco, Rio de Janeiro, 2004), em que ele diz que seu código se funda na família, na amizade, na lealdade, na pessoa e no compadrio. A Roda é, portanto, um ambiente pessoal e coletivo. A música que soa na Roda é produzida verdadeiramente em conjunto. A Roda instaura um ambiente musical que não separa música e vida, lazer e produção, convertendo-se em mais do que apenas um evento musical, mas uma opção política, um modo de vida, que inclui desde círculos de amizade até vestimentas, comidas, bebidas, gestos, discursos, expressões, entre outros. Em outras palavras, a Roda instaura uma comunidade de pessoas em redor da música. A Roda é, também, uma opção política, pois esse rico ambiente musical oferece a seus componentes a possibilidade de adotar uma postura perante a vida, a comunidade, a cidade, a música, a nação. Muitos músicos realizam essa entrega total à música, de modo que o Samba se torna sua principal marca identitária.

Por isso, a Roda é tão louvada entre sambistas. É nela que o samba é criado e recriado, é nela que os conhecimentos ancestrais são transmitidos às novas gerações para que elas possam dar continuidade à tradição. É a Roda, informal, alegre, dos amigos, da comida, da cerveja e da cachaça, o templo sagrado do samba, onde as melodias se entoam em feitio de oração. Esse disco de hoje, produzido por Durval Ferreira, conseguiu imprimir, no acetato, o ambiente esfuziante de uma roda de samba. Ele reuniu nomes pouco conhecidos, porém fortemente ligados ao samba, e, por isso, o disco tem qualidade impressionante, e está cheio de excelentes sambas. Há, na contracapa, pequenas biografias dos sambistas que participaram do LP. Destaco Desafio, samba de L. Américo, B. de Castro e C. de Lima. Outro disco produzido por Durval Ferreira tem a mesma pegada, e está disponível aqui, em nosso blog. Aproveitem a oportunidade e se deixem invadir pela alegria contagiante da Roda de Samba.


                                Lado A

01-Água boa é no meu poço (Chico Bondade – Paulo Sereno) canta: Chico Bondade
02-Samba do trabalhador (Darcy da Mangueira) canta: Darcy da Mangueira
03-Boa noite (Aparecida) canta: Aparecida
04-Não tem veneno (Candeia – Wilson Moreira) canta: Sabrina
05-Venho de Longe (Rubens Mathias – Valdir Mathias) canta: Rubens Mathias
06-Desafio (L. Américo – B. de Castro – C. de Lima) canta:Ary Araújo

 Lado B

01-Cantei a noite (Sidney da Conceição) canta: Sidney da Conceição
02-Sá Dona (Giovana) canta: Sabrina
03-Samba do tatu (L. Wanderley – R. Evangelista) canta:Luiz Wanderley
04-Madeira de Jequitibá (Rubens – Romildo da Portela) canta:Rubão
05-Não é mole (Pedro Paulo – Puruca) canta: Pedro Paulo
06-O couro come (L. Wanderley) canta: Luiz Wanderley