O Acervo Origens é uma iniciativa do violeiro, pesquisador e produtor musical Cacai Nunes e visa pesquisar, catalogar, divulgar e compartilhar conteúdos musicais na internet e em atividades culturais das mais diversas como shows, saraus, bailes de forró e programas de rádio. Ao identificar, articular e divulgar a música brasileira, sua história e elementos – entendidos como o conjunto entrelaçado de saberes, experiências e expressões de pessoas, grupos e comunidades, sobre os mais diversos temas – o ACERVO ORIGENS visa contribuir para a geração e distribuição de um valioso conhecimento, muitas vezes ignorado e disperso pelo território nacional.

quinta-feira, 24 de março de 2011

José Siqueira - Xangô: Cantata Negra (24/03/2011)

José Siqueira foi um homem simplesmente impressionante. Maestro, compositor e acadêmico, era reconhecido internacionalmente pela competência. Fora isso, ele atuava como uma forte liderança no meio musical brasileiro, tendo inclusive criado várias entidades de classe ligadas à cultura, entre elas a Ordem dos Músicos do Brasil, a Sociedade Artística Internacional e o Clube do Disco. Siqueira nasceu em Conceição, no Vale do Piancó, na Paraíba, em 1907. Seu pai era mestre de uma banda marcial, e ensinou o jovem garoto a tocar diversos instrumentos, como saxofone e trompete. Na adolescência, José Siqueira tocava em bandas de várias cidades no interior da Paraíba. Em 1927, foi para o Rio de Janeiro integrar as tropas que iriam combater a Coluna Prestes. De imediato, entrou na Banda Sinfônica da Escola Militar, como trompetista. Na década de 1920, estudou composição com Francisco Braga e Walter Burle-Marx, e, em 1933, formou-se em composição e regência. Sua carreira como regente foi brilhante. Ele inclusive foi regente de grandes orquestras dos Estados Unidos, Canadá, França, Portugal, Itália, Holanda, Bélgica e Rússia, entre outros países. Regeu, nos Estados Unidos, orquestras como as Sinfônicas de Filadélfia, Detroit, Rochester. Na França, regeu a Orchestre Radio-Symphonique, de Paris, e, em Roma, a Sinfônica de Roma. No Brasil, ele apenas fundou a Orquestra Sinfônica Brasileira, em 1940, a Orquestra Sinfônica do Rio de Janeiro, em 1949, a Orquestra Sinfônica do Recife, a Orquestra Sinfônica Nacional e a Orquestra de Câmara do Brasil. Em 1969, foi aposentado pela ditadura militar, porque era declaradamente democrata. Foi proibido de dar aulas, reger e gravar. O regime militar inclusive alegava que ele poderia executar o Hino da Internacional Socialista. Com fortes inclinações comunistas, ele foi-se embora, então, para a União Soviética, e lá regeu a Orquestra Filarmônica de Moscou. Foi na União Soviética, inclusive, que boa parte de sua obra foi editada e preservada. Incrivelmente, apesar de uma carreira internacional incomparável, sua música tem clara origem nas tradições populares brasileiras, notadamente as negras. O disco de hoje traz, no Lado A, composições inspiradas no misticismo da umbanda e candomblé, executadas pela Orquestra Sinfônica de Paris; no Lado B, José Siqueira homenageia o carnaval do Recife, com composições inspiradas nos ritmos e brinquedos típicos da região na época do carnaval, como frevo, maracatu e caboclinho, executadas pela Orquestra Sinfônica da União Soviética.


Lado A


1-Xangô – Cantata negra para sopranos, coro misto e orquestra. 1 – Toada para Exu; 2-Toada para todos na linha de Umbanda; 3 – Toada para Ogum; 4 –Toada para Exu, na linha de Nagô; 5 – Toada para Ogum, na linha de Umbanda.
Alice Ribeiro (soprano), coro Brasiliana, orquestra sinfônica de Paris sob a regência do autor.

Lado B

1-O carnaval no Recife – Suíte de Bailado. 1 – Caboclinho; 2 – Maracatu; 3 – Frevo.
Orquestra sinfônica do Estado da URSS, sob a regência do autor.

Nenhum comentário: